CONTROLE O VÍCIO EM
COMPRAS
Está
combinado que, além de perder 2 kg, toda mulher sempre precisa da última peça
de roupa da temporada – mesmo que esta seja uma nada básica camisa de oncinha.
Mas, bem no fundo, sabemos que o “preciso” não significa, de fato, uma
necessidade. Veja o que fazer para libertar-se do título de shopaholic

Não é apenas a variação de clima que
caracteriza a mudança das estações. As roupas também representam cada uma
delas. Se no verão as peças são mais alegres e curtas, no inverno
são mais elegantes e sóbrias. Se hoje é o longo que domina, amanhã as pernas
devem estar de fora. Assim é a moda, ela muda o tempo todo. Até aí tudo bem. O
que precisamos é ter força para encarar as vitrines com todas essas
novidades sem estourar o orçamento. Até porque, convenhamos, é difícil resistir
levar tantas coisas lindas e novinhas em folha para o armário. Algumas de nós
conseguem. Outras, nem tanto. E não é raro vermos por aí mulheres com
guarda-roupas abarrotados, muitas vezes até com peças ainda com etiqueta. E
mais: com o cartão de crédito estourado.
Linha tênue
Desejar o que é bonito é normal. Ter vontade de ter aquela
jaqueta linda que sua atriz favorita apareceu na semana passada também é. E
tudo bem adquirir novas peças a cada virada de estação para dar um refresh no
guarda-roupa. Afinal, queremos sempre estar belas e na moda. Está no nosso DNA
desejar. “Compras todas fazem, o que diferencia é o volume e a periodicidade.
As que têm mais controle são as resolvidas em alguns aspectos como profissional
e o pessoal”, diz o psicólogo João Oliveira, do Instituto de Psicologia
Ser e Crescer (RJ). A partir daí, percebemos que existem diferentes tipos de
mulheres: aquelas que sempre querem pelo menos uma pecinha da moda; as
shopaholics (as novas consumistas), que precisam esconder os cartões de crédito
antes de entrar no shopping; e aquelas que têm, realmente, um distúrbio e
descontam nas compras todas as suas frustrações e medos. É preciso se preocupar
a partir do momento em que a mulher fica dependente da compra. Podemos perceber
que aquela que está dentro dos padrões, pondera na hora de colocar a mão na
carteira: preciso? vou usar? tenho dinheiro? não tenho nada parecido? Mais
ponderada, menos ponderada, o fato é que elas conseguem seguir adiante com ou
sem a peça. Deve se preocupar aquela que gasta como se não houvesse amanhã, sem
considerar questões importantes.

“Estamos falando de alguém que repete e
repete o ato de comprar, buscando uma subjetivação de seus desejos como pessoa
nesse ato”, avalia a psicóloga Lesle Maciel (SP). O problema pode estar
relacionado a questões como solidão, ansiedade, baixa autoestima ou carência.
Nesse nível mais pesado, trata-se de um problema patológico, um distúrbio que
leva a pessoa a comprar sem precisar ou sequer desejar o objeto. É a compra
pelo simples ato da compra. E ela sente na pele os sinais dessa necessidade.
“Quem sofre de compulsão experimenta uma forte ansiedade, que só é aliviada
quando faz a compra. Ela não consegue controlar o desejo intrusivo e
repetitivo. O ato é imediatamente seguido por intenso sentimento de alívio”, explica
a psicóloga Lesle. Enquanto não realiza a vontade, pode apresentar sinais como
irritação, sudorese, taquicardia, tremor. E não para por aí. A aquisição
do objeto nem sempre significa melhora dos sintomas. Ao contrário. Algum tempo
depois, pode sentir remorso e decepção pela incapacidade de controlar o
impulso. “Em uma atitude compensatória, a culpa gera um mal, que leva a pessoa
a comprar novamente, dando continuidade ao círculo vicioso”, relata Lesle.

Passei da conta?
E aí, quem é apenas uma shopaholic e quem de fato sofre um
distúrbio? Infelizmente, não é tão fácil assim identificar a doença. Vivemos em
uma sociedade que estimula o consumo e, por isso, o ato de comprar muito e
sempre é visto de forma natural. Geralmente, o problema só é detectado quando a
pessoa já está endividada. Se compararmos com outros distúrbios de
comportamento, como bulimia ou vícios químicos, logo entendemos porque é
tão difícil identificar a tempo a doença. Nos demais, o corpo responde
com sinais como emagrecimento ou palidez, por exemplo. No caso das
compras, não há sintomas visíveis, a não ser o desvio de comportamento e as
sensações internas percebidas apenas pelo próprio viciado. O psicólogo João
Oliveira deu algumas dicas que ajudam, por meio de análise de comportamento, a
identificar o problema. “Muitos são os detalhes, mas frequentes e facilmente
percebidos nas ‘descontroladas’”.
• Tom da voz: ela sempre fala mais alto que o
interlocutor.
• Movimentos rápidos: braços e pernas têm movimentos
longos e rápidos, sempre esbarram nos objetos. O senso de percepção está
alterado, é como se perdesse a noção de espaço do próprio corpo.
• Risadas ao invés de sorriso: riem alto para demonstrar, ao
externo, o quanto estão felizes. E é justamente o inverso.
• Rugas de expressão falhadas: devido aos constantes rompantes de
humor, as rugas de expressão não são linhas uniformes, principalmente as do
alto da testa, se elas estão visíveis pode-se perceber falhas de continuidade
nas linhas.
Como parar
Excessos nunca são bem-vindos. Por isso, mesmo as shopaholics
“controladas”, ou seja, aquelas que não apresentam um distúrbio, precisam rever
o comportamento. Como o problema está ligado à carência, uma forma de
driblar é fazer um trabalho de gratificação pessoal: experimente dar a você
mesma pequenos presentes todos os dias, como uma revista, um doce, um passeio
diferente… “O sistema de gratificação fica abastecido e a carência maior
diminui”, avalia João Oliveira. Quem está ao redor, caso identifique, também
pode ajudar dando atenção e afeto. Além disso, para evitar a sensação de
frustração (que geralmente leva às lojas), ressignifique valores, seja
mais positiva, olhe para si a fim de perceber como é uma mulher completa e
feliz. Também é importante ter planos mais curtos, que possam ser solucionados
em, no máximo, cinco anos. Por fim, não encare erros como o fim de um processo.
Para aquelas pessoas com sinais de que a patologia está avançando, o primeiro
passo é a terapia e, em alguns casos, esta deve estar associada à medicação.
“Um detalhe importante: o cérebro não faz distinção entre pequenas ou grandes
compras, ele quer gratificação. Por isso você pode ‘treinar’ ou ‘adestrar’ sua
mente com pequenas gratificações que não são tão caras e vão surtir o mesmo
efeito”, finaliza o psicólogo João Oliveira.

Compre com moderação
Estas dicas são para quem adora uma vitrine, é atraída por
liquidações e não resiste àquele cheirinho de novo. Conversamos com a estilista
Marcela Viegas (SP), que deu dicas de como conciliar moda x orçamento x bom
senso.
Confira:
1-Passeie
no shopping para ver as tendências que vingaram, mas não compre nada. Volte para casa e imagine tudo que
você viu nas peças que já estão
no armário. Avalie se você realmente precisa, se combina com seu estilo e se
cabe no orçamento.
2- Tenha prioridades.
Pense mais ou menos assim: “preciso investir mais em uma bota do que em uma
sandália, porque bota eu não tenho e sandália eu tenho cinco que ainda dão para
serem usadas”.
3-Ao
entrar no shopping, mantenha o foco. Nada a impede de fuçar as lojas
ou ver vitrines, mas lembre-se que está ali para ir ao cinema ou jantar, por
exemplo. Não é porque está em um shopping que precisa gastar.
4-Quando
for comprar uma nova peça, pense se realmente ela tem a ver com
seu estilo ou se é apenas mais uma imposição da moda e que, no fundo, não tem
nada a ver com você (e com o resto do seu guarda-roupa!).
5-As
promoções costumam
acontecer no final das estações, ou seja, oferecem peças que você já cansou de
ver por aí e que, provavelmente, não estarão mais em alta no mês seguinte. Por
isso, a não ser que seja a roupa dos seus sonhos, procure os modelos
atemporais, aqueles que você poderá usar por muitos anos sem passar a impressão
de old fashion. Entram nesta lista jeans, camisas, bolsas em cores sóbrias, saia
lisa, shorts jeans. “Mas não adianta ter no armário 30 shorts jeans e comprar
mais um só porque está em promoção”, explica a estilista. Uma dica boa é pensar
se você se vê usando aquela roupa pelo menos três vezes. Não? Então vale
mais a pena investir em algo mais caro que será usado incontáveis vezes do que
gastar dinheiro à toa.
6-Aproveite
as promoções de marcas bacanas, assim você garante itens por
preços ótimos e qualidade idem – ou seja, roupa boa, bonita e barata no armário
por muitas estações.
7-Evite
as cores fortes e invista no clássico. Não precisa ser careta, mas as
cores básicas (preto, nude
e animal print) são eternas.
8-Bom
senso também é moda. Não
é porque todo mundo está usando maxi colar que você precisa comprar dez deles.
Compre um ou dois modelos e varie de acordo com a ocasião e roupa.
9-Lembre-se
de que quando uma tendência é
martelada e aparece em todos os blogs e vitrines da moda, ela vai ser
massificada e logo, logo vai sumir. Avalie: vale mesmo a pena investir em algo
que, provavelmente, usará por pouco tempo?
10-Faça
diferentes listas, como
lista dos desejos e lista de necessidades, por exemplo. Assim, quando sobrar
uma grana extra para investir no seu próprio visual, você já terá um foco
e não ficará perdida (e vulnerável) entre tantas e tantas opções disponíveis no
shopping. Em meses com mais folga, vale avaliar se cabem itens das duas listas,
do contrário, a prioridade é daquela que contenha o que você realmente precisa.
“O legal da lista é que, durante o mês, suas prioridades vão mudando e às vezes
você pode cansar de uma peça que você estava desejando antes mesmo de você
comprá-la”, finaliza a especialista em moda.
Fonte: Lara Martins